Acaba de ser lançada no Forum Demos Podcast a primeira história de mulheres migrantes da série escrita pelo projeto ENFEM – Integração de Mulheres Migrantes de Países Terceiros nas Comunidades Locais através do Emprego e do Empreendedorismo.
Ao longo dos próximos meses, no Forum Demos Podcast, iremos continuar a dar voz às histórias de vida de um pequeno grupo de mulheres migrantes, ativas e de causas, que fazem parte deste projeto, e cujos percursos são capazes de inspirar todos nós.
O debate foi aberto por Álvaro de Vasconcelos, que começou por desenvolver o conceito de “vaga democrática”. Falou-se também de Samuel Huntington, que entendeu que a revolução portuguesa começou uma 3ª vaga democrática na Europa do Sul durante os anos 70, e que se estendeu nos anos 80 e 90 à América do Sul e à Europa Central.
O ex-director do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais observou no entanto que, desde o virar do milénio, vivemos um refluxo democrático, mais autocracias e degradação das democracias, isto é, mais democracias iliberais, como por exemplo a Hungria, a Polónia ou a Turquia.
Este ciclo de Conferências “De Abril a Abril” surge assim não numa vaga democrática, mas “no contexto da vaga autocrática”, considerou o moderador.
“A libertação é um ato de cultura”
Amílcar Cabral
Tony Tcheka deu início à Conferência falando sobre o processo de libertação e desenvolvimento da Guiné-Bissau, referenciando várias vezes uma das suas maiores figuras – Amílcar Cabral.
O autor elogiou a humildade, diplomacia e espírito de solidariedade do líder guineense, recordando episódios específicos. Contou como Cabral, numa visita ao Kremlin, conseguiu assegurar apoio para a Guiné-Bissau na sua luta pela independência, sem comprometer o país com a adoção do modelo económico da URSS; ou o trabalho desenvolvido por Cabral na Rádio Libertação, onde era locutor e transmitia mensagens tanto para os combatentes pró-independência como para os soldados portugueses:
“Esta luta é contra o mesmo inimigo, o inimigo que me oprime é o inimigo que vos oprime”
Tony Tcheka a citar Amílcar Cabral, ao falar sobre a Ditadura portuguesa e o regime colonial
Teve a palavra de seguida Maria Emília Prado. A Professora Catedrática de História do Brasil abordou a reação à Revolução dos Cravos num Brasil que passava por um Ditadura militar. Ditadura esta que viu inicialmente a queda do Salazarismo com bons olhos, como uma oportunidade de avançar os seus interesses comerciais em África. Isto permitiu que, em 1974, os principais jornais pudessem cobrir de forma positiva a revolução em Portugal, num momento em que a relação da imprensa com o governo de Brasília já era tensa.
Maria Emília Prado mostrou alguns cartoons do cartoonista brasileiro Ziraldo, publicados nos primeiros dias após a revolução. Nestes cartoons, o artista fala sobre a liberdade e a esperança que o espírito democrático que se vivia em Portugal se estendesse ao Brasil.
Cartoon de Ziraldo, publicado nos primeiros dias depois da Revolução dos Cravos
A especialista em História referiu ainda a complicada relação do novo governo democrático português com a Ditadura militar brasileira, no que diz respeito aos exilados políticos brasileiros em Portugal.
Não podendo estar presente, Guilherme D’Oliveira Martins deixou uma intervenção em formato de aúdio, em que frisou a “atualidade indiscutível” dos 3 D’s que guiaram a Revolução dos Cravos. Numa altura em que há recuos democráticos e emergência do extremismo político, democratizar, descolonizar e desenvolver continua a ser um mote atual.
Depois das três intervenções, abriu-se o espaço para o debate com o público, em que foi feita uma autoavaliação geral da democracia portuguesa ao nível dos 3 D’s.
Álvaro de Vasconcelos concluiu o debate, reforçando a necessidade, para construir o futuro, de aliar, como dizia Gramsci, “o pessimismo da razão com o otimismo da vontade”
O projeto ENFEM, de que o Forum Demos é parceiro desde os seus primeiros momentos, acaba de publicar o Livro Práticas de Integração de Mulheres Migrantes , onde se encontra o testemunho do Forum Demos enquanto ator social. O mesmo é publicado lado a lado com as experiências de organizações da sociedade civil como o JRS, o CPR, a A3S, a RPCI, a EAPN ou a CIVITAS. O livro conta, ainda, com uma uma contextualização das imigrações femininas e uma série de histórias de mulheres migrante.
No mesmo dia em que o ENFEM publicou este livro, anunciou dois Cursos B.-Learning
No mesmo dia em que o ENFEM publicou este livro, anunciou dois Cursos Caminhos para a Integração no Mercado de Trabalho, em regime B.-Learning. Um deles é destinado a profissionais/atores da sociedade civil e empresas e outro é vocacionado a mulheres internacionais. Estes cursos são abertos à comunidade, sujeitos a inscrição através do email enfemportugal@iscap.ipp.pt.
No âmbito do Ciclo de ConferênciasParcours d’intellectuels en exil. Un humanisme sans frontières, uma iniciativa de Álvaro Vasconcelos, com a organização da Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France e da Fondation Maison des sciences de l’homme teve lugar em Paris, no passado dia 28 de março, uma confência sobre Milan Kundera.
Partilhamos aqui a síntese deste primeiro momento do ciclo, realizada por Álvaro Vasconcelos e Alessandra Bourlé, e disponível no site da delegação francesa da Fundação Gulbenkian.
Jacques Rupnik, Álvaro Vasconcelos e Iryna Dmytrychyn na Fondation Maison des sciences de l’homme
O texto que se segue é uma tradução do texto publicado originalmente em francêsaqui.
Teve início no dia 28 de Março, no novo espaço da Fondation Maison des Sciences de l’Homme, Le Comptoir, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian – Delegação em França, o ciclo de conferências “Intelectuais no Exílio: Humanismo sem Fronteiras”. Organizado por iniciativa de Álvaro Vasconcelos, este ciclo foi concebido como um fórum de debate dedicado às trajectórias intelectuais de exilados de diversas proveniências que foram acolhidos na FMSH ou na EHESS.
Jacques Rupnik, politólogo e professor emérito especialista em Europa Central e de Leste no CERI/Sciences Po, e Iryna Dmytrychyn, docente do INALCO responsável pelos estudos ucranianos, apresentaram a primeira conferência do ciclo intitulada “Milan Kundera, um transeunte entre duas Europas”. Foi uma imersão de duas horas na vida do escritor checo através do prisma do exílio.
Após a invasão da Checoslováquia pelo exército soviético, em 1968, Kundera fez de Paris o seu local de residência. Este exílio, que se mostrou de certa forma libertador, permitiu-lhe escolher outra língua de pensamento. O autor escreveu a maior parte dos seus romances na língua do país de acolhimento e optou por nunca regressar ao seu país natal. Apesar disso, permanecerá sempre ligado à sua língua materna, bem como às suas origens, guardiãs do seu património.
A solidariedade, o humanismo, a democracia e as possibilidades do exílio deixaram uma impressão duradoura no escritor que, tal como Nabokov, soube (re)criar a vida na língua do outro.
O debate centrou-se também na visão de Kundera sobre a identidade europeia, nomeadamente no seu famoso artigo: Un Occident kidnappé, ou la tragédie de l’Europe centrale. Uma definição cultural da Europa que exclui a Rússia porque, como recordou Jacques Rupnik, não tem tradição de sociedade civil nem de democracia, tem raízes ortodoxas russas e uma ideologia imperial. Ao contrário de uma Europa Central culturalmente europeia.
Iryna Dmytrychyn recordou a influência da ideologia imperial em vários escritores russos, mas questionou-se sobre uma definição religiosa da Europa, que poderia excluir a Ucrânia.
O moderador, Álvaro Vasconcelos, sublinhou os limites de uma definição cultural da Europa que não corresponde à multiplicidade das identidades europeias. O moderador sublinhou que a maioria dos exilados portugueses defendia uma Europa baseada na democracia e na justiça social.
Iryna Dmytrychyn afirmou que a aspiração à liberdade é o que une todos os exilados.
Durante o debate, a questão da contribuição cultural e política dos intelectuais exilados foi levantada como um tema a ser explorado em futuras sessões deste ciclo.
No mais recente episódio do Forum Demos Podcast apresentamos um excerto da conversa Livros em Diálogo (13 de abril de 2023, Cooperativa Artística Árvore, Porto), com Álvaro Vasconcelos & Kitty Furtado sobre O Cinema em Moçambique e o Cinema de Moçambique, a partir dos livros dos autores, respetivamente, «Memórias em Tempo de Amnésia (I)» e «Abrir os Gomos do Tempo».
Este último evento público do Forum Demos inscreveu-se no Projeto comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril «De Abril a Abril», e contou com a parceria da Cooperativa Artística Árvore.
Esta tarde, no 2.º Encontro Nacional do Projeto Internacional ENFEM (Female TCNs Integration in Local Communities through Employability and Entrepreneurship Local Oriented Strategies), foi anunciada a calendarização da nova série de podcasts realizada em parceria pelo Forum Demos e pelo ENFEM, em estreita colaboração com um grupo de jovens atores.
Esta série de Podcasts, que o Forum Demos organiza e edita, procura dar conhecer as histórias de vida de um pequeno grupo de mulheres migrantes em Portugal. Os relatos foram passados a escrito pela Equipa do ENFEM e vão contar com a voz de jovens atores do norte de Portugal.
A primeira sessão do ciclo de conferências “De Abril a Abril”, promovido pelo Forum Demos, terá lugar no Centro Nacional de Cultura, no próximo dia 27 de abril (5.ª F) pelas 18h00.
A revolução do 25 de Abril de 1974 trouxe a democracia a Portugal e teve uma enorme repercussão internacional, pelo impulso democrático e por ter posto fim ao império colonial. De 1973 a 1975, todas as colónias portuguesas em África declararam-se independentes. Quanto ao Brasil, a revolução democrática em Portugal galvanizou a esperança do fim da ditadura militar.
O derrube da ditadura em Portugal ficou a dever muito à luta dos povos colonizados pela liberdade. Uma luta não só política, mas também cultural.
Após o 25 de Abril, a língua portuguesa tornou-se um vetor para a construção de uma comunidade de valores assente nos princípios da democracia, da liberdade e garantia dos Direitos Humanos, princípios que nortearam a resistência às ditaduras e ao colonialismo.
No 1º debate deste ciclo, procuraremos compreender o impacto que o 25 de abril teve na Europa, em África e no Brasil, contando com a participação de Maria Emília Prado, Guilherme d’Oliveira Martins e Tony Tcheka, com moderação de Álvaro de Vasconcelos.
Maria Emília Prado
Professora Catedrática de História do Brasil da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Possui Doutoramento em História Social/USP e pós-doutoramento em Ciência Política e História. Coordena, desde 2004, a realização do Colóquio Internacional Tradição e Modernidade no Mundo Ibero-Americano realizado no Brasil e em vários países europeus.
Guilherme d’Oliveira Martins Administrador Executivo da Fundação Calouste Gulbenkian. Preside ao Grande Conselho / Conselho das Artes do Centro Nacional de Cultura; Académico de Mérito da Academia Portuguesa da História. Presidente do Centro Nacional de Cultura (2002 – 2016).
Tony Tcheka Escritor guineense, poeta, ensaísta, jornalista, e consultor internacional. Presidente da AEGUI – Associação de Escritores da Guiné-Bissau, e analista e comentador da RDP – ÁFRICA em Lisboa.
Álvaro de Vasconcelos Fundador do Fórum Demos. Diretor do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia/EUISS (2007-2012) e do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais (IEEI) de Lisboa, desde a sua fundação, em 1980, até 2007.
Na próxima quinta feira, dia 20 de abril, vai decorrer o 2.º Encontro Nacional do Projeto Internacional ENFEM (Female TCNs Integration in Local Communities through Employability and Entrepreneurship Local Oriented Strategies), coordenado por Ana Luísa Martinho (ISCAP).
Neste evento, vai ser lançado o e-book com o tema “Práticas de integração de mulheres migrantes”, que contou com o contributo do Forum Demos e dos demais parceiros do projeto. Nele vai também ter lugar uma mesa redonda dedicada ao papel das Instituições de Ensino Superior na integração de estudantes internacionais, um Painel de Boas Práticas Empresariais, e o lançamento de cursos dirigidos a mulheres migrantes e a atores locais.
Estão no ar o Episódio 4e o Episódio 5da Temporada 1 nosso Forum Demos Podcast no Spotify. Venham daí ouvir!
Na quarta e quinta entrevistas curtas da série sobre a Hospitalidade em Portugal, prosseguimos a auscultação dos Grupo de Trabalho da Assembleia de Cidadãos do Festival Transeuropa 2022, organizada pelo Forum Demos com o apoio da Câmara Municipal de Valongo. Desta vez ouvimos os relatores do Grupo de Trabalho de Pessoas Afrodescendentes.
No T1/E4 conversamos com a artista Saphira Nancy sobre questões do sentir e da interação com o Outro: O que é ser-se afrodescendente? Como é sê-lo em Portugal? E ser-se pessoa negra?
No T1/E5 entrevistamos Lissa Bulu, caboverdiana, estudante de veterinária, acerca da luta pelos direitos das mulheres negras em Portugal.
No próximo episódio voltamos a explorar o trabalho desenvolvido na última edição da Assembleia de Cidadãos sobre a Hospitalidade, mas desta vez com o Grupo de Trabalho de Pessoas Ciganas.
No próximo dia 26 de abril, às 16h30, vai decorrer na Universidade de Coimbra a apresentação do livro «Memórias em Tempo de Amnésia» (I), de Álvaro de Vasconcelos. A apresentação vai ficar a cargo de Kitty Furtado e Margarida Calafate Ribeiro, com a moderação de Isabel Freitas Valente, e será aberta por João Nuno Calvão da Silva.
Estas Memórias em Tempo de Amnésia são publicadas em dois volumes. O livro trata sobretudo do que era proibido lembrar, do que era subversivo memorizar. Os crimes deviam ser esquecidos para todo o sempre. Podia-se ser preso e torturado por ter visto o crime que nenhum registo podia guardar e ficava, apesar de todo o esforço dos fazedores de silêncio, na memória dos homens. Nos contadores de histórias, nos que pela tradição oral preservam as lembranças dos seus antepassados.
Mas as dificuldades do presente funcionam como uma droga que apaga a memória e propaga como um vírus a amnésia coletiva, tornando a sociedade mais frágil perante ameaças já conhecidas pela humanidade.
Uma campa em África, o primeiro volume, aborda os caminhos que me levaram, ainda menino, para África. Aí vivi entre 1953 e 1967, primeiro em Moçambique, depois na África do Sul. Pretende ser um testemunho da viagem às trevas que era viver em África no tempo em que o racismo era política de Estado, quer fosse na mentira luso tropical ou no horror do apartheid. É um testemunho em nome do dever de memória, contra a política do esquecimento e o revisionismo histórico sobre o crime contra a humanidade que foi o colonialismo. Da Beira da minha infância, da cidade branca, resta uma campa; aí jaz a minha avó Amélia Claro, que eu tanto amara no Douro.
O segundo volume, Utopias Revolucionárias, abordará os anos de exílio e a revolução cultural de Maio de 68, ponto de encontro da contracultura americana e do marxismo europeu, da desconstrução do sistema patriarcal e da luta pela igualdade. É a conclusão da minha crónica dos longos anos 60, que terminaram com o 25 de Abril de 1974 em Portugal.