No passado dia 29 de setembro o Fórum Demos organizou um debate intitulado “A Situação Brasileira A Um Ano das Eleições”. O debate foi aberto com uma intervenção de Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política, cientista político e ex-ministro da Educação do Brasil.
O principal objetivo do debate era a análise da situação política e social do Brasil em consequência da pandemia e da atuação do presidente da extrema-direita, Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo procurava-se conhecer quais são as perspetivas da oposição democrática para as eleições do ano que vem.
As mais recentes sondagens mostram que a intenção de voto em Lula da Silva (antigo presidente do Brasil pelo Partido dos Trabalhadores – PT) é consideravelmente maior do que em Bolsonaro, inclusive entre os que votaram anteriormente no atual presidente. Renato Janine Ribeiro faz uma análise desses dois candidatos, salientando que a boa capacidade de comunicação de Lula, aliada à sua inteligência política e emocional fazem dele um forte candidato. Lembrou ainda que durante a pandemia o Brasil viveu uma grave situação de carência hospitalar e que Bolsonaro, com uma posição negacionista sobre a pandemia, é responsável pela gravidade da situação que já levou à morte de mais de meio milhão de pessoas.
No debate que se seguiu à intervenção de Renato Janine Ribeiro abordou-se a crise económica e social provocada pela pandemia, que começa já a ter efeitos na inflação, como é o exemplo da subida de preços de bens essenciais. Problematizou-se, ainda, o sistema multipartidário brasileiro, que exige uma articulação muito grande entre os vários atores políticos.
Francisco Seixas da Costa e Álvaro Vasconcelos sublinharam a importância de se compreender qual seria a posição do centro-direita e da direita democrática brasileira nas eleições e a probabilidade de concorrer um potencial terceiro candidato. Renato Janine Ribeiro defendeu que “Para poder existir uma democracia é necessário ter uma direita e uma esquerda igualmente democráticas.”, argumentando que o centro no Brasil é praticamente inexistente e que a direita não fascista não é necessariamente democrática porque apoiou Bolsonaro em 2016. A direita democrática e não fascista, de uma maneira genérica, “não vai à luta”, saindo assim prejudicada e desacreditada.
Esta última análise foi contestada por vários participantes, como Teresa Sousa que defende que o bolsonarismo não é fascista, mas sim populista – como acontece, aliás, no caso de Trump; além disto, outros partidos brasileiros, como o PSDB, têm a mesma legitimidade democrática que o PT.
Renato Janine Ribeiro relembra como alguns parâmetros fascistas (militância agressiva, etc.) encaixam no regime de Bolsonaro e não concorda que Bolsonaro tenha sido eleito democraticamente: “Foi uma eleição fraudada pelo fato de que o candidato favorito em todas as pesquisas foi interdito de participar com acusações falsas”.
Sobre a possibilidade da demissão de Bolsonaro, Arlene Clemesha questiona se a escolha da esquerda de não promover uma campanha de impeachment não é arriscada. Para Renato Janine Ribeiro, relativamente a esta questão, “o PT não estaria interessado num impeachment porque para o Lula é um campeonato entre ele e Bolsonaro, onde as chances dele vencer são maiores.”
No Youtube – através do qual os debates são transmitidos em direto – perguntava-se sobre a falta de união da esquerda brasileira para derrotar Bolsonaro. A esta questão Renato Janine Ribeiro responde que, por um lado, a tarefa essencial dos políticos brasileiros é unir os antifascistas e que, por outro, o centro, mesmo tendo eleitores, não tem líderes fortes. Álvaro Vasconcelos relembra que existem outras forças com grande influência política, como os militares e a alta finança, que podem tentar travar, como o fizeram no passado, uma vitória de Lula. Sobre a hipóteses de um candidato da chamada “terceira via”, Pedro Dallari, que se juntou ao debate, é da opinião que as eleições refletirão a bipolarização que atravessa a sociedade brasileira: “O centro-direita perdeu espaço e foi ocupado pela extrema direita.” Ficou sem resposta a questão de saber qual seria o posicionamento do centro direita se os dois principais candidatos forem Lula e Bolsonaro.
Este debate é o primeiro de uma iniciativa do Fórum Demos intitulada – Observatório das Eleições Brasileiras de 2022.