Não haverá futuro sem ciência

Crónica n.º 14 – Observatório das Eleições Brasileiras 2018

Por Renato Janine Ribeiro*

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Esta segunda-feira, menos de 24 horas após a proclamação de Jair Bolsonaro como presidente eleito do Brasil, uma página no Facebook conclamava os alunos de engenharia da Universidade de S. Paulo a invadir a, mais esquerdista, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da mesma universidade. A violência de extrema-direita parece estar liberada. Embora muito disso sejam meras palavras, palavras são atos, geram realidades, como qualquer estudioso sabe.

E no entanto essa agressividade verbal e física contrasta com a ausência quase total, no dia da eleição e nos anteriores, de adesivos nos carros, de bandeiras nas casas, de camisetas com emblemas dos candidatos. Embora parte dos votantes de Bolsonaro se entusiasmasse com a plataforma de seu eleito, a grande maioria votou nele – ou em seu rival Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores – sem grande animação. O que é um dos raros aspectos positivos, talvez, no acontecido: uma caça às bruxas não parece ter apoio popular. A ver, de todo modo. Continuar a ler “Não haverá futuro sem ciência”

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Os dados não estão lançados

Crónica n.º 13 – Observatório das Eleições Brasileiras, 2018

Por Renato Janine Ribeiro *

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Estamos a menos de vinte e quatro horas das eleições presidenciais mais tensas da história do Brasil. Ás 19 horas de domingo, em Brasília – começo da madrugada em Portugal – teremos provavelmente os resultados. Há semanas, as pesquisas marcaram clara vantagem do candidato Jair Bolsonaro. Mas uma virada começou estes dias. Se o pleito tivesse lugar daqui a uma semana, a vitória de Fernando Haddad se tornaria, talvez, provável. Por ora, é o imponderável.

Dois foram os eixos de conflito nesta eleição. Primeiro, o petismo vs o antipetismo. Lula pensou que o conflito se daria entre o golpe, que derrubou Dilma Rousseff em 2016 sob acusações especiosas (por isso, golpe), mas tendo como base política erros cometidos por ela na economia e na falta de articulação política. Como o golpe não trouxe a prometida cornucópia, Temer e os seus ficaram impopulares e os vários candidatos ligados a sua plataforma foram praticamente pulverizados na eleição. Continuar a ler “Os dados não estão lançados”

Brasil: a Injustiça contra a democracia (*)

* Por Álvaro Vasconcelos

(*) Artigo originalmente publicado no Público, em 24 de Outubro de 2018.

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Se Bolsonaro não for derrotado todos sofreremos. Os brasileiros terão ainda mais razões de revolta contra as injustiças, nós todos porque não haverá um Brasil democrático.

A campanha eleitoral de Fernando Haddad tem-se concentrado na defesa da Democracia, das liberdades, da tolerância e na desmontagem da retórica securitária do candidato neo-fascista. A consciência de que há um risco sério para a Democracia e para o Estado de direito foi, pouco a pouco, impondo-se, mas parece não ser suficiente para derrotar Bolsonaro. E pode não ser suficiente porque muitos dos que nele votam, fazem-no por estarem indignados com a crise económica, com as desigualdades que ela revelou e pelo impacto que teve na qualidade de vida da classe média e dos pobres. E muitos responsabilizam, por tudo isso, a corrupção.

A indignação não é apenas brasileira, é mundial, e tem sido, na maioria dos casos, canalizada pela extrema-direita. A grande recessão de 2008 veio tornar claro que os grandes financeiros, com a conivência e a cumplicidade corrompida dos governantes, fizeram fortunas colossais especulando com as poupanças dos cidadãos. A consciência das desigualdades é um dos fatores que explica o descontentamento com os partidos políticos do centro esquerda e do centro direita e o sucesso dos partidos anti-sistema, incluindo o da extrema-direita neo-fascista. Continuar a ler “Brasil: a Injustiça contra a democracia (*)”

Debate no IEA/Unifesp – As democracias perante a emergência da extrema-direita: que resposta?

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O Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) promove, na próxima quarta-feira (24/10), debate intitulado “As democracias perante a emergência da extrema-direita: que resposta?”. O evento é gratuito e aberto ao público em geral.

A primeira volta das eleições brasileiras confirma a tendência para a emergência da extrema-direita e o enfraquecimento dos partidos do centro político que têm governado as democracias, desde a derrota do fascismo, ou seja, no pós II Guerra Mundial. É assim no Brasil, tem sido assim na Europa, na maioria dos atos eleitorais, com a exceção da França, e pode dizer-se que a eleição de Trump, nos Estados Unidos, se inscreve nesta tendência. As causas da tendência para este refluxo democrático têm sido amplamente debatidas, designadamente, o impacto social da grande recessão de 2008, o enfraquecimento do poder do voto perante as forças da globalização econômica, o fim do monopólio da imprensa tradicional e o papel crescente das redes sociais. O que tem sido menos discutido é como defender a democracia perante esta vaga de iliberalismo autoritário. Este debate tem como objetivo, a partir de uma análise comparativa do Brasil e da Europa, discutir uma resposta à insatisfação dos cidadãos perante as democracias e como derrotar a extrema-direita.

Painel – convidados(as)
Helcimara Telles (UFMG)
Maria Hermínia Tavares de Almeida (USP)
Renato Janine Ribeiro (USP e professor visitante da Unifesp)
Milton Hatoum
Álvaro Vasconcelos (Fórum Demos), organizador

Serviço:
Debate no IEA/Unifesp – As democracias perante a emergência da extrema-direita: que resposta?
Data: 24/10 (quarta-feira), das 9h às 12h
Local: Anfiteatro Leitão da Cunha/Unifesp
End.: Rua Botucatu, 720 – Vila Clementino – São Paulo/SP
Evento gratuito, sem necessidade de inscrição

Europa Social : A Hipótese de um Rendimento Básico Incondicional – Encontro com os cidadãos

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A Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus, em parceria com o Forum Demos, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, a Universidade do Minho e a Universidade do Porto organizam a conferência Europa Social: a Hipótese de um Rendimento Básico Incondicional, a qual terá lugar no dia 27 de outubro na UTAD, e que culminará com um Encontro com os Cidadãos.

Os “Encontros com os Cidadãos” sobre o futuro da Europa são realizados em diversos formatos e regiões do país (incluindo as Regiões Autónomas), abrangendo os temas mais importantes da agenda europeia. O objetivo destas ações é estimular a participação dos cidadãos e permitir conhecer melhor as suas preocupações sobre o futuro da Europa. Os resultados finais desta iniciativa serão apresentados no Conselho Europeu de dezembro de 2018.

A iniciativa é coordenada pela Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus e realizada em parceria com a Comissão Europeia, através da sua Representação em Portugal, envolvendo também os Municípios e outras entidades locais, as Universidades, as Escolas e diversas organizações da sociedade civil.

Neste evento, debater-se-á o estado atual dos problemas sociais na Europa e as políticas de desenvolvimento regional, pretendendo mostrar-se até que ponto a implementação de um rendimento básico incondicional (RBI) teria impacto e poderia ou não ser solução para alguns destes problemas.

Nada de novo na Frente Eleitoral!

Crónica n.º 12 – Observatório das Eleições Brasileiras 2018
Por Renato Janine Ribeiro*

Haddad

Nada de novo na Frente Eleitoral! Mais uma semana se passou, e Bolsonaro, o candidato da extrema-direita que a mídia brasileira teima, ao contrário da imprensa internacional, em chamar de “direita”, atinge uns 60% das intenções de voto. Enquanto isso, seu adversário Fernando Haddad, civilizado, professor universitário, educador, patina nos 40%.

Nenhum dos candidatos que saíram da primeira volta, no espectro que separa a centro-esquerda de Haddad e a extrema-direita de Bolsonaro, deu apoio a Haddad. Somente Boulos, à sua esquerda, e Ciro Gomes, outro nome de centro-esquerda, o apoiaram. E Ciro o fez bem mais ou menos. Fernando Henrique Cardoso, embora cada vez mais isolado e mesmo desrespeitado no seu PSDB, que um dia quis ser social-democrata, prefere se colocar neutro. Continuar a ler “Nada de novo na Frente Eleitoral!”

Sobreviverá a democracia brasileira às eleições de 2018? – Síntese da intervenção de Pedro Bacelar de Vasconcelos

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Síntese da intervenção de Pedro Bacelar de Vasconcelos* no Debate Fórum Demos: Sobreviverá a Democracia Brasileira às eleições de 2018?, realizado no passado dia 15 de outubro na Cooperativa Árvore:

Só faltam dez dias mas é ainda possível derrotar o candidato neofascista à presidência do Brasil. Para o conseguir, é preciso que muitos dos que votaram nele na primeira volta arrepiem caminho e decidam, no dia 28 de Outubro, votar em Fernando Haddad… ou, em alternativa, que optem por votar nulo ou em branco. Não há cinquenta milhões de neofascistas no Brasil. Muitos dos que votaram em Bolsonaro estão zangados com o PT e com as promessas que os seus governos deixaram por cumprir, estão exasperados com a insegurança que ameaça as suas vidas, estão cansados de uma corrupção endémica que a democracia veio expor de forma ainda mais flagrante e, claro, estão decepcionados com o fim de um ciclo de progresso inédito que permitiu aos Governos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula da Silva tirar milhões de brasileiros da miséria mais extrema. Esta insatisfação não é uma singularidade brasileira. Bem pelo contrário! Só para enumerar os casos mais recentes, atente-se nos resultados obtidos pela extrema direita na Inglaterra, na América do Norte, na Áustria ou na Itália. Um antigo líder da KU-Klux-Klan, apoiante de Donald Trump e adepto dos “supremacistas brancos”, dizia sobre Jair Bolsonaro: – “Ele soa como nós”. Continuar a ler “Sobreviverá a democracia brasileira às eleições de 2018? – Síntese da intervenção de Pedro Bacelar de Vasconcelos”

Sobreviverá a democracia brasileira às eleições de 2018? – Síntese da intervenção de Álvaro Vasconcelos

Brasil

Síntese da intervenção de Álvaro Vasconcelos* no Debate Fórum Demos: Sobreviverá a Democracia Brasileira às eleições de 2018?, realizado no passado dia 15 de outubro na Cooperativa Árvore:

A violência de Bolsonaro!

A democracia brasileira corre um sério risco com a eventual vitória eleitoral do candidato da extrema-direita, antigo capitão do Exército, o medíocre Jair Bolsonaro, cujas declarações neo-fascistas faziam prever um esvaziamento rápido da sua candidatura.

Ele sozinho não seria nada, nem ninguém, mas encontrou apoio num conjunto de forças económicas e sociais interessadas em pôr termo à experiência social-democrata do Brasil, que foi iniciada na presidência de Fernando Henrique Cardoso e continuada pelas presidências do PT.

Impulsionam a sua candidatura os saudosistas do antigo regime militar, os sectores mais reaccionários dos evangélicos e os sectores económicos mais retrógrados. Continuar a ler “Sobreviverá a democracia brasileira às eleições de 2018? – Síntese da intervenção de Álvaro Vasconcelos”

Debate: Sobreviverá a democracia brasileira às eleições de 2018? – Síntese da intervenção de Marcela Uchôa

Debate Fórum Demos

Síntese da intervenção de Marcela Uchôa* no Debate Fórum Demos: Sobreviverá a Democracia Brasileira às eleições de 2018?, realizado no passado dia 15 de outubro na Cooperativa Árvore:

A  democracia  sobreviverá? 

Independente  deste  ato  eleitoral,  a  democracia  é  jovem,  precária  e  já  voltou  a  ruir  a  algum  tempo.  A  violência  contra  os  pobres,  indígenas,  mulheres  e  classe  trabalhadora  sempre  existiu  no  Brasil.  Houve  um  período  de  estabilidade  social,  de  acordos  transclassistas  do  PT,  que  parecia  poder  garantir  direitos  sociais,  ecológicos  e  políticos  para  a  população  negra,  trabalhadora,  indígena,  feminina  e  LGBT.  Mas  a  crise  rapidamente  acabou  com  essa  ilusão.  Ainda  era  no  governo  Dilma,  quando  se  começou  a  criminalizar  os  movimentos sociais  com  as  leis  antiterrorismo.  O  processo  do  impeachment,  os  julgamentos  arbitrários  no processo  contra  Lula  e  o  fracasso  da  investigação  à  morte  de  Marielle  Franco  demonstraram  o  fim  do  estado  de  direito  muito  antes  de  Bolsonaro  chegar  ao  poder.   Continuar a ler “Debate: Sobreviverá a democracia brasileira às eleições de 2018? – Síntese da intervenção de Marcela Uchôa”

Debate Fórum Demos: Sobreviverá a democracia brasileira às eleições de 2018?

Após mais um debate do Fórum Demos, desta vez dedicado ao tema das eleições brasileiras deste 2018, publicar-se-ão agora algumas das ideias partilhadas e posições discutidas.

O debate, moderado por Gonçalo Marcelo (Investigador no CECH da Universidade de Coimbra e Professor convidado na Católica Porto Business School), decorreu na Cooperativa Árvore, no dia 15 de outubro pelas 18H30 e contou com a intervenção de Marcela Uchôa (Doutoranda em Filosofia Política na Universidade de Coimbra em regime de cotutela com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Vice-Presidente da APEB Coimbra e Professora de Ética e Filosofia do Direito na Faculdade Cearense), Pedro Bacelar de Vasconcelos (Deputado e Presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República) e Álvaro Vasconcelos (Investigador Convidado IRI/USP, São Paulo 2014-2015; coordenador da obra ‘O Brasil nas Ondas do Mundo’).

No início, foi apresentado um pequeno vídeo com as declarações de Renato Janine Ribeiro (Professor de ética e filosofia política, cientista político e ex-ministro da Educação do Brasil – 2015), sobre a situação política do Brasil após a primeira volta das eleições, realizada no passado dia 7 de outubro.

O vídeo pode ser visto aqui ou, diretamente, na página do Youtube do Fórum Demos: