No mais recente episódio do Forum Demos Podcast apresentamos um excerto da conversa Livros em Diálogo (13 de abril de 2023, Cooperativa Artística Árvore, Porto), com Álvaro Vasconcelos & Kitty Furtado sobre O Cinema em Moçambique e o Cinema de Moçambique, a partir dos livros dos autores, respetivamente, «Memórias em Tempo de Amnésia (I)» e «Abrir os Gomos do Tempo».
Este último evento público do Forum Demos inscreveu-se no Projeto comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril «De Abril a Abril», e contou com a parceria da Cooperativa Artística Árvore.
De modos diferentes, Memórias em Tempo de Amnésia: uma campa em África de Álvaro Vasconcelos, e Abrir os Gomos do Tempo: conversas sobre cinema em Moçambique coordenado por Ana Cristina Pereira e Rosa Cabecinhas propõem-se contribuir para a nossa memória coletiva, sobre o passado recente de Portugal e de Moçambique. Álvaro de Vasconcelos confidencia, logo nas Causas Primeiras, que o seu livro nasce de um dever de memória. A expressão ‘dever de memória’ remete-nos para Primo Levi, que escreveu para que não esquecêssemos o horror do holocausto nazi.
O autor pretende evitar que uma determinada camada da História portuguesa seja apagada, para que as gerações futuras não esqueçam, para que o fascismo não se reinstale, para que o racismo não seja ignorado e para que possamos sonhar com um mundo melhor.
O mesmo dever compeliu Ana Cristina Pereira e Rosa Cabecinhas a partilhar com um público alargado as memórias que lhes foram confidenciadas por muitos dos protagonistas do cinema moçambicano, desde os anos da luta pela Independência até aos dias de hoje, passando pelo momento áureo do pós-Independência, em Moçambique.
Estes livros são destinados essencialmente a quem gosta de ouvir contar histórias. São textos com um forte pendor cinematográfico, porque o cinema está sempre presente nas histórias que se vão contanto, mas sobretudo porque a forma como são reveladas as memórias que os habitam é também ela, muitas vezes, formulada através de imagens que têm movimento. Memórias em tempo de Amnésia tal como Abrir os Gomos do Tempo, são histórias que têm a beleza e a força das palavras daqueles que acreditam em novas possibilidades de vida.
Com este Diálogo iniciamos uma série de conversas sobre o 50.º aniversário do 25 de abril. Apareçam no dia 13 de abril, às 18h, na Cooperativa Árvore, para um debate aberto ao público sobre os livros Memórias em tempo de Amnésia e Abrir os Gomos do Tempo.
No próximo sábado, dia 9 de Julho, às 15h, na Feira do Livro de Braga, a Civitas Braga promove, em conjunto com o Forum Demos, a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva e a Fundação Castro Alves, um Encontro de Cidadania intitulado Democracia e Paz: ameaças e perigos eminentes, com a apresentação do livro «De Trump a Putin – A Guerra Contra a Democracia», de Álvaro Vasconcelos.
O encontro irá iniciar com um momento dedicado a um par de poemas de resistência de Chico Buarque, pela voz de José Miguel Braga, passando depois a uma conversa onde, além do autor, estará presente Sandra Fernandes, professora de Relações Internacionais da Universidade do Minho.
A conversa, que será mediada por Inês Granja, tentará discutir as ameaças internas e externas aos sistemas democráticos de hoje, os motivos que levam à eleição de líderes como Trump ou Bolsonaro, entre outras reflexões. Haverá espaço para alargar o debate ao público.
Contamos com a sua presença!
Leia aqui um excerto do Prefácio de Teresa Sousa
«Esta recolha de textos de Álvaro Vasconcelos gira à volta de um tema central – a democracia liberal e os perigos que hoje atravessa, cercada por dentro e por fora por ameaças e desafios que não podem ser subestimados. É este o seu grande valor.
Na base do descontentamento e da desconfiança que minam as democracias liberais está a percepção das profundas desigualdades geradas ao longo de várias décadas pelas teorias neoliberais que precederam a crise financeira de 2008 e a Grande Recessão dos anos seguintes. Este é outro dos pontos essenciais sobre o qual os textos reunidos neste livro reflectem. A pandemia expôs algumas dessas desigualdades intoleráveis. Mas o autor avisa também, citando Edgar Morin, que mais igualdade não implica menos liberdade. Joe Biden compreendeu esta nova realidade. Está a encontrar demasiadas resistências. Os republicanos continuam a sua deriva populista e nacionalista.
O livro regressa várias vezes ao passado, aos momentos em que as grandes tendências que hoje dominam o nosso mundo começaram a desenhar-se. Da força dos supremacistas brancos nos Estados Unidos, à deriva autocrática na Rússia. De Samuel Huntington e o seu “choque de civilizações” ou a sua obra seguinte (“Who are We?”, 2004, sobre a identidade nacional americana) às ilusões ocidentais sobre a transformação acelerada, mas impossível, da economia herdada da União Soviética numa perfeita economia de mercado.
O livro leva-nos do Mediterrâneo das tragédias dos imigrantes, ao Brasil de Bolsonaro, do Brexit ao futuro da União Europeia, da eleição de Trump à guerra de Putin na Ucrânia, dos sobressaltos das democracias europeias, minadas por dentro pelas várias cores do populismo e dos extremismo, com alguns desvios por Portugal e nosso papel na Europa. Olhando mundo, a sua ideia fundamental é a de uma “humanidade comum”, que a pandemia veio pôr dramaticamente em evidência.
Utopia? Talvez. Sem idealismo, é difícil encarar o futuro. Essa é outra marca indelével deste livro de Álvaro Vasconcelos.»
Veja também o último artigo de Teresa Sousa no blog do Forum Demos: