Legislativas 2024 :: OPINIÃO Afirmar um projeto de centro-esquerda na sociedade portuguesa, por Leonardo Costa


Na cabeça da esquerda, a esquerda ama o povo e a direita não. Como o povo não é muito dado aos amores platónicos da esquerda, de outro modo, não quer saber disso para nada, a esquerda acaba por ter com o povo um amor que é, digamos, não correspondido, até porque idealiza um povo que não existe.


Dito o acima, a afirmação da esquerda que é de esquerda (ama o povo) e por isso é contra a direita (que não o ama) não lhe garante, a meu ver, sucesso eleitoral. Para ter sucesso eleitoral, a esquerda precisa de ser menos sectária (pois o sectarismo é autodestrutivo), ter domínio da realidade e entender as pessoas como elas são e não como as idealiza e dialogar com as mesmas. Só assim, a comunicar com as pessoas reais, conseguirá entender o que passa na cabeça das mesmas e a partir daí imaginar, aristotelicamente, o possível (em termos daquilo que possa ser, no presente, um projeto progressista para a sociedade portuguesa) e concretizá-lo. Projeto que terá de ter essa capacidade de diálogo com o centro político e outras forças democráticas, para, num futuro próximo, poder ter sucesso eleitoral e gerar transformações positivas na sociedade portuguesa. Projeto de centro-esquerda. Politicamente e não só, para o bem e para o mal, as coisas são dinâmicas e não estáticas. Há mudanças no presente que podem permitir no futuro outras mudanças que no presente não são possíveis, ou seja, alargar o campo das possibilidades no tempo. O que significa que aquilo que é direita, centro e esquerda são alinhamentos cujos pontos centrais variam no tempo.

O país acordou hoje com uma maioria de direita. Não creio que isso tenha correspondência com uma maioria da população sociologicamente conservadora. Algo a investigar.

Com ajuda das suspeitas de corrupção, que explorou até á medula, o sucesso do Ventura nas eleições não foi nos debates televisivos, nem nas ruas. Foi mais no modo como trabalhou as redes sociais. Durante a campanha, o Ventura passava as manhãs a comunicar com as pessoas nas redes sociais e a criar toda uma realidade alternativa que se exprimiu nas urnas. Sejam quais forem as razões do sucesso da personagem, entender as mesmas é meio caminho para as conseguir contrariar, para parar uma dinâmica que não tem interesse nenhum para a sociedade portuguesa.

por Leonardo Costa, agrónomo e economista

FD Podcast :: T4/Ep 3 Política Internacional, com Bruno Cardoso Reis e Teresa de Sousa

Hoje, lançamos o quarto episódio dedicado às Legislativas 2024. Conversamos com Bruno Cardoso Reis, historiador e professor universitário no ISCTE, autor do Podcast 5 continentes (Observador), e Teresa de Sousa, Jornalista, Redatora principal da secção Mundo do Público, coautora do Podcast Diplomatas (Público).

Bruno Cardoso Reis

Teresa de Sousa

Se ainda não ouviram os dois episódios passados, com Leonardo Costa e Jorge Pinto, sobre Desigualdade, e com Ana Gomes e Ana Rodrigues, sobre Corrupção, ainda é possível. Estão disponíveis no Spotify.

O Forum Demos Podcast conta com a moderação de Inês Granja e a edição de João Fernandes.