Na cabeça da esquerda, a esquerda ama o povo e a direita não. Como o povo não é muito dado aos amores platónicos da esquerda, de outro modo, não quer saber disso para nada, a esquerda acaba por ter com o povo um amor que é, digamos, não correspondido, até porque idealiza um povo que não existe.
Dito o acima, a afirmação da esquerda que é de esquerda (ama o povo) e por isso é contra a direita (que não o ama) não lhe garante, a meu ver, sucesso eleitoral. Para ter sucesso eleitoral, a esquerda precisa de ser menos sectária (pois o sectarismo é autodestrutivo), ter domínio da realidade e entender as pessoas como elas são e não como as idealiza e dialogar com as mesmas. Só assim, a comunicar com as pessoas reais, conseguirá entender o que passa na cabeça das mesmas e a partir daí imaginar, aristotelicamente, o possível (em termos daquilo que possa ser, no presente, um projeto progressista para a sociedade portuguesa) e concretizá-lo. Projeto que terá de ter essa capacidade de diálogo com o centro político e outras forças democráticas, para, num futuro próximo, poder ter sucesso eleitoral e gerar transformações positivas na sociedade portuguesa. Projeto de centro-esquerda. Politicamente e não só, para o bem e para o mal, as coisas são dinâmicas e não estáticas. Há mudanças no presente que podem permitir no futuro outras mudanças que no presente não são possíveis, ou seja, alargar o campo das possibilidades no tempo. O que significa que aquilo que é direita, centro e esquerda são alinhamentos cujos pontos centrais variam no tempo.
O país acordou hoje com uma maioria de direita. Não creio que isso tenha correspondência com uma maioria da população sociologicamente conservadora. Algo a investigar.
Com ajuda das suspeitas de corrupção, que explorou até á medula, o sucesso do Ventura nas eleições não foi nos debates televisivos, nem nas ruas. Foi mais no modo como trabalhou as redes sociais. Durante a campanha, o Ventura passava as manhãs a comunicar com as pessoas nas redes sociais e a criar toda uma realidade alternativa que se exprimiu nas urnas. Sejam quais forem as razões do sucesso da personagem, entender as mesmas é meio caminho para as conseguir contrariar, para parar uma dinâmica que não tem interesse nenhum para a sociedade portuguesa.
por Leonardo Costa, agrónomo e economista