Ciclo de debates | Memória e Democracia – Colonialismo com Ana Cristina Pereira, Evalina Gomes Dias, João Figueiredo e José Pedro Monteiro

O Forum Demos, em colaboração com a Casa Comum da Universidade do Porto, a Cooperativa Árvore, o Centro Nacional de Cultura e a Universidade Lusófona do Porto, iniciou um novo ciclo de debates luso-brasileiros sob o título “Memória e Democracia”, comissariado por Álvaro Vasconcelos. O quarto debate do ciclo terá lugar segunda-feira, dia 7 de junho, pelas 18h30 (Lisboa)/ 14h30 (São Paulo) e terá transmissão pelo Youtube, através do canal do Forum Demos.


Neste debate abordaremos a temática da “Colonialismo”, com Ana Cristina Pereira, investigadora no CES – Universidade de Coimbra, Evalina Gomes Dias, presidente DJAAS – Associação de Afrodescendentes, João Figueiredo, investigador no CEDIS – Universidade Nova de Lisboa, e José Pedro Monteiro, investigador no CES – Universidade de Coimbra.

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O direito dos palestinos à igualdade

 

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitosDeclaração Universal dos Direitos Humanos

 

De repente, o mundo descobriu que os palestinos existem e que não aceitam a violência de que são vítimas nos territórios ocupados, a desumanidade da extrema miséria em que vivem em Gaza, o intolerável calvário de morte e destruição a que são sujeitos, periodicamente, pelo exército israelita. O rastilho de pólvora da revolta foi a expulsão por Israel de famílias palestinas do bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, as dificuldades que criou ao acesso à Mesquita de Al-Aqsa, durante o Ramadão e ter impedido a realização das eleições palestinas em Jerusalém.

O Hamas aproveitou para tentar afirmar-se como única força que defende os palestinos, isolar a direção da OLP e enfraquecer os movimentos que defendem a não-violência. Netanyahu, por seu lado, procura concentrar a atenção no Hamas para continuar a expulsar os palestinos de Jerusalém e anexar a Cisjordânia. 

Na crise atual, os palestinos são desumanizados por análises religiosas e essencialistas. São confundidos com o Hamas e responsabilizados pelos seus rockets, como se merecessem o castigo que sofrem. A falta de direitos em que vivem, da responsabilidade da potência ocupante, é absurdamente comparada com a democracia de Israel, argumento utilizado por alguns para defender a política de Telavive – os mesmos que naturalmente optaram pela democracia americana na invasão do Iraque com as consequências trágicas que se conhece.

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A Variante Iliberal*, por Jacques Rupnik

O divórcio entre o Partido Popular Europeu e o Fidesz de Viktor Orban diz respeito à questão da democracia, ou mais precisamente, à sua variante “iliberal” húngara. Esta última foi declarada incompatível com a conceção liberal da democracia ligada ao Estado de direito, na qual o projeto europeu foi fundado. Este é um importante ponto de viragem após uma década de indulgência em relação à deriva do regime de Budapeste.

Esta incompatibilidade, tardiamente afirmada, traz um esclarecimento para o grupo mais poderoso do Parlamento Europeu e para o Fidesz, que se juntará ao grupo do soberanismo antiliberal ao lado do seu parceiro polaco, o PiS de Jaroslaw Kaczynski, e da Liga de Mateo Salvini. Mas a questão permanece a nível europeu: pode uma democracia europeia ser “iliberal”? Poderá a União Europeia acomodar conceções tão divergentes de democracia? Onde traçamos a linha vermelha entre democracias não liberais e regimes autoritários? Comecemos com um breve levantamento da situação na Europa Central antes de abordarmos estas questões.

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Liberdade. Mais, mais . Não menos, por Alexandra Lucas Coelho*

RG Rui Gaudencio – 14 Novembro 2016 – PORTUGAL, Lisboa

A quem quiser ler mas antes de mais às minhas irmãs portuguesas.
 Que o gesto de uma não diminua outra. Que um gesto nunca diminua, amplie. A história de todas nós – todas, filhas, alunas, trabalhadoras, amantes, mães, irmãs – é uma história da violência. Abuso, intrusão, obstrução, encurralamento nas gavetas, nas campas do Portugal dos Pequenitos.
O moralismo bafiento, mesquinho e autoritário deste país é a sua grande obscenidade. Não lhe basta ser bafiento e mesquinho, quer impor-se. Todas nós estamos vivas à nossa custa. Não desistimos todos os dias, apesar de tudo. Todas tivemos de aprender a ser mais fortes: que o abusador, próximo ou desconhecido, o patriarca, o patrão, em casa ou no mundo. Mais fortes do que quem quis decidir por nós a nossa vida. Mais fortes do que o trabalho que perdemos, os amores, o conforto, o sono, a saúde, a paz de espírito, os constantes insultos velados ou explícitos, tanto mais explícitos quanto mais levantámos a cabeça. Todas. As lindas por serem lindas, as feias por serem feias, as gordas, as magras, as activas, as passivas, as rápidas, as lentas, as que falam, as que calam, as que têm filhos, as que não têm filhos. Todas vivas à sua custa, apesar de tudo. Todas temos muitas histórias que podemos contar, se quisermos, quando quisermos, como quisermos, quando isso for libertação, potência, não mais fonte de abuso. Ninguém, nenhum homem, nenhum arrivista de meia tigela sentado numa coluna de jornal, nem nenhuma mulher de dedo espetado tem o direito de dizer a outra mulher o que ela deve dizer sobre o sofrimento, de a encurralar, de lhe tirar espaço e potência, o seu próprio momento, quando essa mulher, todas, têm uma vida de luta, de alguma forma. E só elas sabem o que dizem, como se solidarizam, de que forma, porquê. Noção, esse bem tão escasso. Respeito. O pudor tem onde melhor se aplicar que nas mamas e nas pilas, deixem-nas sossegadas. Pudor é pensar na liberdade e potência de cada um.
 Eu quero que bem se foda esse dedo espetado de Salazar. No que à nossa vida toca, nossa intimidade, nosso corpo, temos o direito de falar aqui ou noutro espaço. De falar agora ou quando for o momento. De falar ou de não falar. De foder ou de não foder. De sermos castas ou putas. De sermos hetero, bi, homo, transgénero, sem género. De não sermos escravas de nada ou de sermos escravas do que entendermos. Temos direito a tudo o que só nos diz respeito, minhas irmãs. Liberdade para o que bem nos der na telha, onde, quando e como. Mais, mais. Não menos.

*Jornalista e escritora portuguesa