Apelo à união, vamos criar um movimento pelo fim de impostos e portagens nos automóveis elétricos

Com este breve texto, venho apelar, a todos aqueles que o leiam, que me ajudem a iniciar, em Portugal, um movimento que lute pela isenção da totalidade de impostos e de portagens nos veículos elétricos. Sou um cidadão que se escandaliza com o facto de que, num mundo que comporta uma sociedade em luta pela sua sobrevivência e em que o tempo para se fazer baixar as emissões de gases de efeito de estufa escasseia, os governos não sejam capazes de fazer algo tão simples como isentar da totalidade de impostos e de portagens os veículos elétricos, criando assim um fortíssimo incentivo económico à aquisição desses automóveis.

A ciência fez o que lhe competia e, hoje, o automóvel elétrico é um meio aprimorado e eficaz de mobilidade. Na esmagadora maioria dos casos, nas simples deslocações casa-trabalho, este meio de transporte mostra-se totalmente eficaz. É verdade que a transição do automóvel convencional para o elétrico já se iniciou e que todos os anos a percentagem de automóveis elétricos vendidos no mundo, face à totalidade de veículos vendidos, sobe. Contudo, a severidade da emergência climática, com que nos confrontamos, exige que tudo se faça em ordem à aceleração dessa transição. Ninguém é capaz de apresentar um único motivo válido para que tal medida não avance. Nem mesmo a questão orçamental é razão pois, para compensar a perda de receita, o Estado poderia (e deveria) subir as portagens e os impostos dos novos veículos não elétricos. Sublinho a palavra novos. Para não agudizar, ainda mais, as condições de vida das pessoas, já tão afetadas pelas sucessivas crises, não proponho efeitos retroativos de qualquer espécie para os veículos não elétricos.

Portugal deve ser pioneiro e dar este exemplo ao Mundo. É necessário que se repasse esta informação e que, desse modo, se inicie este movimento que só parará quando, em Portugal, o Estado deixar de cobrar impostos e portagens pelos veículos elétricos. Quem se identificar com este movimento e me queira ajudar com ideias para o dinamizar, por favor entre em contacto comigo pelo email, ricardoamorimpereira@gmail.com

Ainda há razões para acreditar no futuro?

Há largas semanas que a Humanidade vem mergulhando num dos períodos mais negros da sua História. Se é certo que este período nunca conseguirá rivalizar, em horror, com o das grandes guerras mundiais, nem mesmo com o de outras grandes pandemias do passado, não é incorreto afirmarmos que estamos perante uma página negra da nossa História coletiva. Assim, este momento veio reforçar o pessimismo congénito de alguns e, possivelmente, abalar o otimismo dominante de outros. Pese embora o facto de muitos me considerarem um “otimista”, a sê-lo, considero que este meu otimismo se encontra bem ancorado no realismo. Com efeito, poderia discorrer sobre a espetacular evolução, nas últimas décadas, de todos, e sublinho todos, os indicadores de bem-estar, no mundo. Redução da pobreza, das guerras, dos regimes autoritários, das doenças, do analfabetismo, etc. É possível encontrar esses estudos com uma simples pesquisa na Internet. Dito isto, não ignoro o impacto terrível da crise sanitária atual, como também não ignoro o enorme desafio (não suspenso em tempos de pandemia) que são as alterações climáticas, bem como não esqueço as ameaças ao mundo progressista e desenvolvido que, sob a forma do nacionalismo e do populismo, vão surgindo e que, responsavelmente, não devem ser ignoradas por ninguém.

Apesar disto, são visíveis tendências que nos podem possibilitar prever um futuro melhor.  Começo por realçar que a própria crise pandémica está repleta desses sinais. Vejamos a forma como a esmagadora maioria das pessoas e dos governos tem vindo a respeitar as orientações emanadas da comunidade científica. Este é um grande indício de que as correntes obscurantistas, longe dos holofotes das redes sociais onde as suas mensagens ecoam numa câmara de ressonância composta pelo seu próprio público, não estão a conseguir minar a sociedade. Depois, temos o próprio avanço da ciência. Por certo, todos estamos despertos para o facto de que o avanço conseguido pela ciência, na compreensão deste vírus, nos últimos meses, impressiona pela sua rapidez. Veja-se que, em apenas dez dias, um grupo de cientistas partilhou com a OMS e a comunidade científica uma versão preliminar do genoma do novo vírus SARS-cov-2. Um feito absolutamente impressionante. Há, hoje, milhares de estudos acerca do novo Coronavírus publicados e muito se sabe já sobre este vírus. Informação imprescindível no apoio à decisão política e fundamental para, nas nossas vidas que precisam de continuar, todos corrermos o menor risco possível. Num esforço verdadeiramente internacional e multilateralista, a ciência não deixou de cooperar apesar das retóricas arcaicas e nacionalistas de um número reduzido de governos mesmo poderosos como os EUA.

Sem querer vender a ninguém a ideia de que o aparecimento desta crise pandémica foi positivo, não é mentira alguma afirmar que, muito provavelmente, a experiência que através dela a Humanidade adquiriu vai possibilitar um combate mais eficaz àquela que realisticamente é a sua maior ameaça: as alterações climáticas. Com efeito, para todos, esta crise está a constituir-se uma aula sobre a importância da ciência, de escutarmos a ciência, de combatermos a desinformação, de nos protegermos através de uma informação rigorosa e científica, estando ainda, com mestria a expor a um ridículo insustentável um tipo de políticos que sugere injeções de desinfetante para o combate à Covid-19 ou que tenta forçar ministros da saúde a implementarem programas de uso generalizado de medicamentos não testados cientificamente. Socorrendo-me de um português mais fluido, esta crise veio tirar o resto da última parte da credibilidade que os políticos palhaços ainda poderiam ter. Assim, quando esses políticos negarem o aquecimento global causado pela atividade humana, será para o caixote do lixo que a esmagadora maioria das pessoas atirará os seus discursos. As sondagens começam já a acusar essa realidade e estou convencido de que acusarão muito mais num futuro próximo.

Aproximo-me do final desta viagem pela sustentação do meu otimismo que, como se vê, considero mesmo ter mais de realismo do que de otimismo. Os críticos poderão alegar que estou a esquecer-me da problemática da crescente desigualdade social. Eu diria que, se tivermos uma visão centrada no que se passa dentro dos países, verifica-se, de facto, em média, uma desigualdade crescente (o que não significa, necessariamente, que os mais pobres estejam a viver pior), mas, se olharmos para o mundo como um todo, este é hoje bem mais equilibrado do que no passado. Veja-se que em 1960 o continente asiático representava menos de 20% da riqueza mundial, hoje representa mais de 30% e a tendência é crescente https://www.businessinsider.com/chart-asias-share-of-global-gdp-1700-2050-2012-4 . No ano em que eu nasci, 1989, o mundo entrou num novo capítulo da sua História marcado pela previsibilidade e pelo progresso. Um patamar de desenvolvimento ideológico-social que, na sua substância, permanecerá, provavelmente, inalterado por centenas de anos e onde o bem-estar e o progresso social apenas dependerão da compreensão de que capitalismo, como um bom prato que necessita de sal qb, precisa de uma dose qb de liberalismo económico: de menos e deixaremos de ter capitalismo, pois ele está na sua génese; de mais e teremos sobressaltos (como a crise de 2009) e falta de coesão social. Este será o caminho para a criação de um planeta estável, com um ambiente e uma ecologia estáveis, lar de uma Humanidade comum e fraterna, disposta a procurar novos mundos, outros lares.

Vamos ainda a tempo de se evitar o pior, neste e noutros vírus da Humanidade

Encontramo-nos num momento desafiante na História da Humanidade. Experienciamos uma crise que clarificará algumas das questões que permanecem em aberto na nossa vida coletiva. Não tenho dúvidas de que, a cada dia que passa, estamos mais perto de, logo que nos seja autorizada a saída de nossas casas, virmos a encontrar um mundo muito diferente daquele de que nos despedimos. Sejamos claros, é praticamente impossível manter-se a paz social com os níveis de recessão económica que as projeções apontam para, praticamente, todas as economias mundiais. Assim sendo, os governos têm o dever de começar já a preparar um plano de mitigação da catástrofe económica que se avizinha. Esse plano deverá assentar, à boa maneira keynesiana, pelo estímulo da procura. Caso isso não aconteça, passar-se-ão anos e anos até que o equilíbrio entre a procura e a oferta, atirado para o nível do rés-do-chão por esta crise, volte a subir e a ser capaz de manter os níveis de desemprego a níveis aceitáveis. A alternativa é já consabida: miséria galopante a servir de gasolina para o fogo do populismo e dos nacionalismos (fogo que lavrava já antes desta crise). Entre 2002 e 2003, o surto da SARS causou mais de 800 mortes no mundo. Tratava-se de um vírus da família dos coronavírus, porém menos contagioso do que o atual Covid-19. Tal facto explica que não se tenha atingido, logo nesses anos, a proporção pandémica atual. O mundo teve muitos anos para se preparar para o SARS-COV-2 (Covid-19) mas preferiu ignorar a ameaça. Estamos, agora, a correr contra o tempo, procurando por uma vacina e tratamentos eficazes. A ilação que daqui se tira é a de que, como se diz vulgarmente, a prevenção é o melhor remédio. Este é o tempo de se mitigarem as consequências sanitárias desta crise mas também de se prevenirem, já, os efeitos da crise económica que se avizinha. Outra matéria em que importa prevenir antes de remediar é a questão das alterações climáticas. Muitos de nós talvez conheçam a história do sapo que se deixou ficar numa panela com água a ferver. Segundo a história, certa vez, um sapo, que se havia instalado dentro de uma panela cheia de água fria, não foi fazendo caso dos lentos mas implacáveis aumentos de temperatura resultantes do facto de a panela ter sido posta ao lume. O resultado é óbvio: o sapo morreu cozido. Talvez se esse mesmo sapo tivesse saltado para dentro da água, num momento em que esta já estivesse a ferver, fosse sacudido por um decisivo impulso vital que o levasse a saltar e, assim, ainda se salvasse. Relativamente à crise pandémica atual, movida pelo medo de uma ameaça imediata, a sociedade tem vindo a demonstrar uma capacidade organizativa e de adaptação de relevo, à escala macro e micro. Pelo contrário, receio que, no que concerne à ameaça das alterações climáticas, estejamos mais próximos do sapo que se deixou ficar a cozinhar dentro da panela: na ausência de uma ameaça imediata e imprevista, vamo-nos deixando adormecer, insensíveis a todas as evidências que nos alertam para o desastre que, lenta mas inexoravelmente, se avizinha. Tenho a certeza de que, se fôssemos capazes de evidenciar a mesma determinação e coragem na hora de enfrentarmos o desafio da transição energética, como o estamos a fazer nesta hora em que enfrentamos o Covid-19, ganharíamos também essa batalha. Temos de o fazer! É imperioso que o façamos. É forçoso que travemos todas as batalhas para vencermos o combate. Os nossos inimigos estão em todas as ameaças a uma vida em sociedade com democracia, liberdade, salvaguarda dos direitos humanos, bem-estar e prosperidade. Não nos podemos dar ao luxo de escolher as batalhas que queremos travar.

COVID-19, uma janela de oportunidade

Todos estamos bem cientes da gravidade da crise com que nos deparamos. Nada mais há a acrescentar nesse campo, restando-nos, enquanto seguimos as recomendações das autoridades competentes, aguardar, pacientemente, por melhores dias. Quero, contudo, refletir acerca de um aspeto potencialmente positivo deste flagelo. Acredito que em todos os eventos, mesmo nos mais catastróficos, é possível encontrar algo, por muito ínfimo que seja, de positivo. Que sirva esta crise para trazer à superfície da nossa sociedade, de um modo duradouro e consistente, um sentido de fraternidade, de entreajuda, que há muito se vinha perdendo. Que a noção, que hoje todos estamos a ser forçados a assimilar, de que o bem do todo depende da soma do bem individual, se estenda pelos anos vindouros. Que, quando a crise sanitária passar, se perceba que as desigualdades e a exclusão social são vírus que minam o organismo chamado sociedade e que, portanto, importa combatê-los com o mesmo vigor com que, hoje, se combate o COVID-19. E isto é igualmente verdade na dimensão do cuidado que devemos ter – UE – a resolver, de uma forma humanista, o flagelo das migrações. No entanto, a completa falta de informação, na comunicação social presentemente monotemática, acerca da desgraça que está a ocorrer na fronteira turco-grega, já é merecedora de reparo e de preocupação. Enfim, esta crise é a última a evidenciar que o destino de um homem ou de uma mulher, de uma cidade, país ou continente é indissociável daquilo que se passa na porta do lado e que as soluções para os grandes problemas só podem ser alcançadas numa lógica multilateralista. O mundo não vai acabar. Não acabou com a gripe espanhola nem com as guerras mundiais. Estamos a ser desafiados uma vez mais e saberemos responder à altura. Que a sociedade que venha a sair destes dias de apreensão e de mágoa seja uma sociedade mais sábia, uma sociedade melhor. Coragem e boa sorte!

A defesa de um símbolo

Joacine Katar Moreira é, hoje, não só mas também, um símbolo para uma larga franja dos portugueses de ascendência africana, que nela veem um representante das suas aspirações. Proteger Joacine, pelos que partilham o ideal de emancipação social que simboliza, é imprescindível. Ao proteger o símbolo, estamos a proteger o que este simboliza. Dito isto, quando um partido, neste caso o Livre, toma a iniciativa de propor uma pessoa de cor para as suas listas de deputados à Assembleia da República, uma vez assegurada essa eleição, deve preparar-se para os ataques racistas de que, inevitavelmente, sofrerá na pessoa do(a) deputado(a). Esses ataques pretendem, no fundo, atingir um ideal, um património de valores. Abstendo-me de fazer qualquer consideração quanto à prestação da deputada em apreço, gostaria de dizer que essa preparação de que falava passa pela compreensão interna da importância de defenderem a sua deputada para, assim, combaterem eficazmente a extrema-direita racista. Não me parece que isso esteja a acontecer, no Livre. Do que tem vindo a público, não há motivo para que a deputada Joacine seja atacada, internamente, da forma violenta como tem sido (ver artigo de Sá Fernandes, no Público). Portanto, a não ser que haja mais factos relevantes ainda não tornados públicos – e se assim for, devem ser tornados públicos o mais rapidamente possível –, esse ataques apenas fragilizam o combate à agenda da extrema-direita, que reemerge (lembremo-nos de que a ditadura salazarista era de extrema-direita). São indícios disso as declarações racistas do líder do Chega e, em menor grau de gravidade, as do  líder do CDS-PP. Fragilizada internamente, Katar Moreira fica mais propensa a sucumbir aos ataques externos de todos aqueles que odeiam aquilo em que ela se tornou: símbolo de uma ideia de sociedade evoluída, aberta a todas as culturas, verdadeiramente democrática e que combate o racismo. Dito isto e para concluir, penso igualmente que chegamos a um estádio da História onde os desafios são globais e as lógicas nacionalistas e etnicistas completamente retrógradas. Penso que poderá ser pobre, para qualquer deputado, acusar e sucumbir à sua marca identitária mais fácil de identificar. Um deputado do interior não deve olhar apenas para os interesses imediatos do interior, pelo contrário e igualmente deve ter a visão do conjunto nacional. Assim deverá ser com um deputado cigano, jovem, mulher, negro, etc. Todos nós devemos olhar menos para as marcas distintivas e muito mais para o universo que nos une, hoje ameaçado, norteados pela procura do bem-comum.