CARTA ABERTA DE SOLIDARIEDADE À LUTA CONTRA OS CORTES NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA[*]

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Protesto de estudantes na Praça Afonso Pena, Centro de São José dos Campos (SP). FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO CLAUDIO CAPUCHO)

À razão do ato 30M Coimbra – Ato em Defesa da Educação no Brasil, dinamizado pelo Vozes no Mundo – Frente Pela Democracia no Brasil que é um dos muitos movimentos que são constituídos por alunos/as brasileiros/as em Coimbra, pelo Fórum Demos gostaríamos de manifestar o nosso apoio às/aos estudantes brasileiras/os relativamente aos recentes cortes na educação, que atingem a qualidade de toda a comunidade académica, não só no Brasil, como em Portugal.

Os recentes cortes de verbas das Universidades Públicas, Institutos Federais e educação básica anunciados pelo Ministro da Educação brasileiro, totalizando um corte de 30% no orçamento geral, colocam em causa o bom funcionamento das instituições públicas de ensino superior, ameaçam a pluralidade de ideias e pensamentos, a diversidade cultural e a produção de conhecimento científico.

Este desinvestimento, focado desproporcionalmente nas Ciências Humanas e Sociais, prejudicam o pensamento crítico para o desenvolvimento das sociedades e instituições, essencial para um desenvolvimento económico e social não só no Brasil, mas em qualquer sociedade moderna.

A iniciativa de corte financeiro às Ciências Sociais (em particular no ensino da Filosofia e Sociologia) tem um caráter claramente inconstitucional, sendo um atentado à autonomia científica e académica. A opção de preterir áreas científicas com base no seu suposto carácter ideológico é inaceitável e apenas faz recordar períodos da história, nomeadamente em Portugal, a que não queremos voltar.

A reorientação dessas determinações para o corte financeiro dirigido a algumas universidades – Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade de Brasília (UNB), assente exclusivamente em critérios ideológicos, veio também a demonstrar-se disparatada e nada assente em qualquer base académica, ou científica (ou qualquer outra, que não o mero “achismo”).

A presente ameaça de aplicação de restrições financeiras a todo o sistema de ensino superior público brasileiro demonstra um caminho de desinvestimento no ensino superior, o qual certamente terá consequências negativas para o país.

É uma política de que parece ausente qualquer noção de futuro e que se assemelha à ameaça ao sistema científico que já se tinha verificado nos E.U.A.

[…]

É fundamental que nos saibamos mobilizar perante estas ameaças ao Ensino Superior e Ciência, porque nos parece que estas ameaças estão cada vez mais presentes, incluindo a precariedade que afeta o nosso Ensino Superior e Ciência.

SNESup – Sindicato Nacional de Ensino Superior de Portugal

Brasil: preocupação com o Ensino Superior e Ciência

É por isto que demonstramos a nossa solidariedade com todos os estudantes brasileiros, tanto em Portugal como no Brasil, na defesa de um investimento digno na Educação, que não só é um direito e um bem fundamental para qualquer país, mas é também uma condição indispensável para manter a soberania e a liberdade baseada no conhecimento e tolerância.

Neste sentido, apelamos a todos os membros do Fórum Demos interessados no assunto a subscrever a CARTA ABERTA DE SOLIDARIEDADE À LUTA CONTRA OS CORTES NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA abaixo publicada e que nos foi enviada pelo Vozes no Mundo – Frente Pela Democracia no Brasil.

[*] Para subscrever, basta enviar e-mail manifestando interesse para forumdemos.geral@gmail.com

CARTA ABERTA DE SOLIDARIEDADE À LUTA CONTRA OS CORTES NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Considerando o artigo 6º e o artigo 205 da Constituição Federal Brasileira e as Leis de Diretrizes e Bases da Educação, a Educação é direito inalienável e um bem fundamental à nação – pilar insubstituível de soberania e liberdade, para o exercício de sua plena cidadania e ao pensamento crítico da população brasileira, cujo é dever do Estado ser promovida e incentivada, manifestamos nosso apoio na luta contra os cortes de verba na educação brasileira anunciado pelo atual Ministro da Educação, Abraham Weintraub, em 30 de abril de 2019.

O desmonte da educação no Brasil parece ser uma estratégia do atual governo de extrema-direita, somada à uma má e atrapalhada gestão. Após a posse de Jair Messias Bolsonaro como presidente do Brasil, a pasta do Ministério da Educação (MEC) já contou com dois titulares: Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub. Uma das piores medidas até então anunciada foi o contingenciamento de 30% do valor da verba discricionária das universidades e dos institutos federais, embora outras ações executadas também devam ser sublinhadas, como: 1) a criação de uma comissão de revisão do Enem a partir de uma “lente ideológica” (Folha de SP, 20/02/2019; O Globo, 19/05/2019); 2) o pedido  do MEC às instituições de ensino para que os  professores filmem seus alunos cantando o hino nacional e que o material seja encaminhado por e-mail à pasta e à Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República (G1, 25/02/2019; Valor, 25/02/2019); 3) a suspensão da avaliação de alfabetização de crianças por dois anos pelo MEC (EXAME, 25/03/2019), fato que se viu forçado a recuar (Correio Braziliense, 26/03/2019); 4) a exoneração de vários funcionários do MEC  ao  custo de ao menos 171 mil reais, visto por especialistas como desperdício para os cofres públicos (Folha de SP, 02/04/2019); 5) corte generalizado de verbas para pesquisa (Folha de SP, 08/05/2019) e ainda uma declaração de que “as Universidades não é para todos, somente para algumas pessoas”, do então ministro Vélez, à época (Congresso em foco, 30/01/2019).

Entendemos que o atual governo tem se dedicado a desmoralizar as instituições públicas de ensino, ameaçando a pluralidade de ideias e pensamentos, a diversidade cultural e a produção de conhecimento científico, golpeando, assim, em especial os que defendem e promovem o pensamento crítico nas instituições de ensino, particularmente as Ciências Humanas e Sociais. O resultado é que o MEC hoje vive uma grande crise e a verdadeira disputa da educação brasileira, é uma disputa de classes, entre ricos e pobres, entre as elites e os proletariados. Hoje o atual ministro representa perversos interesses antidemocráticos, em um país onde ainda impera a desigualdade social e desnuda sua total falta de compromisso com a educação brasileira ao anunciar o corte de 30% no orçamento da educação, cujos recursos já foram reduzidos pelos efeitos da “PEC da Morte” (EC 95/2016), que congelou os investimentos públicos durante duas década.

O corte no orçamento e nas bolsas em todos os níveis, também promoverá um impacto negativo na produção de conhecimento científico, na formação integral e qualificada de professores/as de todos os níveis e nos destinos da formação adequada de milhares de estudantes. Seus efeitos maléficos se farão sentir com o comprometimento da importante e necessária produção científica e tecnológica no país, lembrando que a pesquisa e a inovação no Brasil têm como, praticamente, único berço as universidades.

É por todos esses motivos e contra qualquer retrocesso aos direitos sociais, cívicos e também políticos conquistados pelo povo brasileiro por meio de muita luta, que nós, estudantes, pesquisadores, secundaristas e membros da comunidade,  vivendo em Portugal, nos solidarizamos com a luta que garanta esses direitos ao povo brasileiro por meio do acesso a uma educação pública gratuita e de qualidade.

ASSINAM:

F. Marina Azevedo Leitão;

Artur Fernando Arede Correia Cristovão;

Luísa Schmidt;

Filipa M. Ribeiro;

Orfeu Bertolami;

António Veríssimo;

Frederico Arruda;

Anaísa Cristina Pinto;

Aida Santos;

Inês Granja Costa;

Manuel Malheiros;

Jéssica Moreira;

Cristina Salgado;

Przemysław Woźniak;

Renato Miguel Tavares e Sousa;

Gonçalo Marcelo;

Álvaro Vasconcelos;

Manuel Benardo Leal;

José Vítor Malheiros;
João Alberto Brandão Alves Pimenta;

[em permanente atualização…]

 

Debater a Paz

Por F. Marina Azevedo Leitão

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[Legenda: Chamberlain rolls the world towards peace cartoon in Flickr]

Costuma dizer-se, nesta segunda década do século XXI, que a combinação dos avanços democráticos em boa parte do mundo e a internacionalização dos sistemas financeiro, comercial e produtivo deveriam ter tido já um “efeito estabilizador” na ordem mundial, “com a moderação das tendências belicistas ou de ameaças do uso da força” que ainda persistem[1].

Ao mesmo tempo, diante da progressão histórica, em sentido claramente evolutivo, das conexões internacionais e, com estas, dos instrumentos teóricos aptos a orientar proficuamente as relações entre os Estados e, entre estes, e seus componentes, conclama-se, com igual veemência, que a paz deveria ser já “o estado normal do sistema internacional; e anômalos, a tensão, a hostilidade e o conflito”[2].

No entanto, longe de quaisquer antolhos da história do tempo presente, sabe-se que o mundo de hoje dista ainda da concretização cabal de tal ideal ou, por outras palavras, como mencionaram a respeito Correia e Gonçalves, sabe-se que “o mundo está muito longe de ser um oásis de paz”[3]. E, em coerência com este ponto de vista, como acentuou o cientista político francês Dominique Moïsi (2017), uma “visão distorcida do presente é [sempre] a pior maneira possível de nos prepararmos para os desafios do futuro”[4]. Continuar a ler “Debater a Paz”

Eleições Presidenciais Brasileiras: análise Fórum Demos (parte 3)

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O Brasil escolhe hoje, dia 7 de outubro de 2018, o presidente que irá substituir Michael Temer no Palácio do Planalto.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 147.306.275 brasileiros estão aptos a votar na primeira volta das presidenciais.

As urnas foram abertas pelas 08H00 (12H00 Lisboa) e têm o seu encerramento previsto para as 17H00 de cada fuso horário. As últimas urnas eletrónicas a fechar serão no Estado do Acre, pelas 21H00 em Lisboa. As primeiras projeções devem ser conhecidas ao final da noite e os números oficiais ao início da madrugada de segunda-feira.

Quem será eleito Presidente do Brasil em 2018? O que dizem as sondagens? Continuar a ler “Eleições Presidenciais Brasileiras: análise Fórum Demos (parte 3)”

Eleições Presidenciais Brasileiras, 2018: análise Fórum Demos (parte 2)

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Confira abaixo, por ordem alfabética, quais são os candidatos à Presidência confirmados pelos partidos nas suas convenções nacionais: Continuar a ler “Eleições Presidenciais Brasileiras, 2018: análise Fórum Demos (parte 2)”

Eleições Presidenciais Brasileiras, 2018: análise Fórum Demos (parte 1)

faixa-presidencial(Faixa Presidencial | Foto: Ricardo Stuckert / Instituto Lula)

No próximo domingo, dia 7 de outubro de 2018, a sociedade brasileira está convocada para decidir que modelo de país deseja e apoia; não só, mas também através da escolha do Presidente da República que conduzirá os rumos da democracia brasileira nos próximos anos. A fim de conhecermos um pouco mais alguns dos contornos do atual sistema político-institucional, exploramos nesta análise as principais regras da eleição do chefe de Governo e chefe de Estado brasileiro. Continuar a ler “Eleições Presidenciais Brasileiras, 2018: análise Fórum Demos (parte 1)”

Catalunha: independência ou… independência?!

Por Marina Azevedo Leitão
1536090417_173276_1536129239_noticia_fotograma(Quim Torra, 131.º presidente da Catalunha. Fonte: GARCÍA, Albert in El País)

Joaquim Torra i Pla, eleito deputado regional nas eleições catalãs de 21 de dezembro de 2017 pela lista independentista ‘Juntos pela Catalunha’ e, entretanto, sucessor de Carles Puigdemont no governo catalão, nunca se assumiu – nem sequer se presumiu que pudesse vir a ser – um rosto de mudança da vida política catalã. Deixando de parte os seus tweets polémicos, o novo presidente da Catalunha sempre foi, aliás, conhecido por pertencer à ‘ala mais dura do independentismo’, tal como o descreveu o diário espanhol El País. Continuar a ler “Catalunha: independência ou… independência?!”

Secessionismo catalão: ameaça ou reforço da democracia liberal?

Secessionismo catalão - cartazDe há muito que o termo secessionismo tinha existência e significado próprio antes de entrar no léxico político recente, mas ganhou nova vida ao ser usado em contextos de formalidade institucional em países como a Espanha ou a Inglaterra e, aí, em embates vividos entre as ‘margens’ e o ‘centro’ mas, também, em textos e títulos de jornais. Enquanto fenómeno político, reporta-se à vontade expressa ou reivindicação formal de prossecução de um projeto imaginado (e ambicionado) de constituição de um espaço político autónomo e independente a partir da separação de uma parte do território de um Estado pré-existente e do gradativo e posterior reconhecimento de terceiros Estados da nova territorialidade conquistada.  Continuar a ler “Secessionismo catalão: ameaça ou reforço da democracia liberal?”

TPP – Sobre as violações dos direitos de Migrantes e Refugiados

* Marina Azevedo Leitão

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No fim dos anos setenta, por iniciativa do jurista e politólogo Lélio Basso, foi fundado em Itália o Tribunal Permanente dos Povos (TPP) que, independente dos Estados e dotado de rituais fortemente simbólicos, anelava conferir notável visibilidade aos que vivem à margem dos direitos; vítimas de violações dos direitos coletivos contemplados na Declaração Universal dos Direitos dos Povos, também conhecida como Carta de Argel (1976).

Continuar a ler “TPP – Sobre as violações dos direitos de Migrantes e Refugiados”

Secessionismo Catalão: Ameaça ou Reforço da Democracia Liberal?

O Fórum Demos, em colaboração com a Cooperativa Árvore, o grupo de investigação Europeísmo, Atlanticidade e Mundialização do CEIS20 – UC e a Visões Cruzadas sobre a Contemporaneidade – Rede de Estudos Interdisciplinar, convida para mais um debate, desta vez dedicado ao tema do “Secessionismo catalão: ameaça ou reforço da Democracia Liberal?”.

O debate terá lugar na Cooperativa Árvore, no dia 17 de setembro pelas 18H30 e contará com a participação de José Blanes Sala (Professor na Universidade Federal do ABC – UFABC), Marina Azevedo Leitão (Doutoranda em Estudos Contemporâneos no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra – CEIS20-UC) e Sofia Lorena (Jornalista no jornal Público), contando ainda com a moderação de Álvaro Vasconcelos.

Secessionismo catalão - cartaz

Em debate:

Com novos protagonistas políticos, a ‘questão catalã’ continua na ordem do dia. Porque quer, afinal, a Catalunha tornar-se independente de Espanha? Que paralelismos existem entre o nacionalismo catalão e o nacionalismo escocês? Que ameaças representam os nacionalismos identitários à democracia na Europa? Será a proposta de um novo Estatuto de Autonomia solução bastante para o fim da crise catalã?

Estes serão alguns dos temas a ser discutidos neste fórum.

Contamos com a vossa presença e participação.

Fórum Demos