Encontramo-nos num momento desafiante na História da Humanidade. Experienciamos uma crise que clarificará algumas das questões que permanecem em aberto na nossa vida coletiva. Não tenho dúvidas de que, a cada dia que passa, estamos mais perto de, logo que nos seja autorizada a saída de nossas casas, virmos a encontrar um mundo muito diferente daquele de que nos despedimos. Sejamos claros, é praticamente impossível manter-se a paz social com os níveis de recessão económica que as projeções apontam para, praticamente, todas as economias mundiais. Assim sendo, os governos têm o dever de começar já a preparar um plano de mitigação da catástrofe económica que se avizinha. Esse plano deverá assentar, à boa maneira keynesiana, pelo estímulo da procura. Caso isso não aconteça, passar-se-ão anos e anos até que o equilíbrio entre a procura e a oferta, atirado para o nível do rés-do-chão por esta crise, volte a subir e a ser capaz de manter os níveis de desemprego a níveis aceitáveis. A alternativa é já consabida: miséria galopante a servir de gasolina para o fogo do populismo e dos nacionalismos (fogo que lavrava já antes desta crise). Entre 2002 e 2003, o surto da SARS causou mais de 800 mortes no mundo. Tratava-se de um vírus da família dos coronavírus, porém menos contagioso do que o atual Covid-19. Tal facto explica que não se tenha atingido, logo nesses anos, a proporção pandémica atual. O mundo teve muitos anos para se preparar para o SARS-COV-2 (Covid-19) mas preferiu ignorar a ameaça. Estamos, agora, a correr contra o tempo, procurando por uma vacina e tratamentos eficazes. A ilação que daqui se tira é a de que, como se diz vulgarmente, a prevenção é o melhor remédio. Este é o tempo de se mitigarem as consequências sanitárias desta crise mas também de se prevenirem, já, os efeitos da crise económica que se avizinha. Outra matéria em que importa prevenir antes de remediar é a questão das alterações climáticas. Muitos de nós talvez conheçam a história do sapo que se deixou ficar numa panela com água a ferver. Segundo a história, certa vez, um sapo, que se havia instalado dentro de uma panela cheia de água fria, não foi fazendo caso dos lentos mas implacáveis aumentos de temperatura resultantes do facto de a panela ter sido posta ao lume. O resultado é óbvio: o sapo morreu cozido. Talvez se esse mesmo sapo tivesse saltado para dentro da água, num momento em que esta já estivesse a ferver, fosse sacudido por um decisivo impulso vital que o levasse a saltar e, assim, ainda se salvasse. Relativamente à crise pandémica atual, movida pelo medo de uma ameaça imediata, a sociedade tem vindo a demonstrar uma capacidade organizativa e de adaptação de relevo, à escala macro e micro. Pelo contrário, receio que, no que concerne à ameaça das alterações climáticas, estejamos mais próximos do sapo que se deixou ficar a cozinhar dentro da panela: na ausência de uma ameaça imediata e imprevista, vamo-nos deixando adormecer, insensíveis a todas as evidências que nos alertam para o desastre que, lenta mas inexoravelmente, se avizinha. Tenho a certeza de que, se fôssemos capazes de evidenciar a mesma determinação e coragem na hora de enfrentarmos o desafio da transição energética, como o estamos a fazer nesta hora em que enfrentamos o Covid-19, ganharíamos também essa batalha. Temos de o fazer! É imperioso que o façamos. É forçoso que travemos todas as batalhas para vencermos o combate. Os nossos inimigos estão em todas as ameaças a uma vida em sociedade com democracia, liberdade, salvaguarda dos direitos humanos, bem-estar e prosperidade. Não nos podemos dar ao luxo de escolher as batalhas que queremos travar.